domingo, 17 de outubro de 2010

Navio: Que Saudades do Presidente Vargas II

           Dos artigos que tenho escrito, o que mais tem chamado a atenção dos eventuais leitores, é o que se refere ao navio Presidente Vargas. Na verdade o assunto torna-se apaixonante, principalmente, para as pessoas que tiveram ou ainda tem alguma ligação com o Marajó, mais precisamente, com Soure e Salvaterra, pois o navio era utilizado pelos moradores das duas Cidades.
           A respeito do navio Presidente Vargas recebi um comentário, em que um dos eventuais leitores ressalta que naquela época "Soure já tinha e tem uma economia tão minguada, com o naufrágio do N/M Presidente Vargas despencou mais ainda." Essa afirmativa poderia ser verdadeira. Mas este aspecto da economia de Soure ou mesmo do Marajó - nesta região que hoje chamamos de Arari que é composta dos Municipios de Soure, Salvaterra, Cachoeira do Arari, Santa Cruz do Arari e Ponta de Pedras - acredito que apesar de tudo, a região tinha muita força econômica, política e prestigio. Faço essa afirmação porque, graças a essa força é que o navio Presidente Vargas foi contruido nos estaleiros da Holanda, juntamente com outros  quatro navios (Lobo d'Almada, Augusto Montenegro, Leopoldo Peres e o Lauro Sodré-frota branca)   para  fazer a ligação de Belém, via Mosqueiro,  com Marajó - Soure. Aliás, gostaria de fazer uma retificação. No artigo anterior falei de uma chatinha. Mas não houve essa chatinha. O  quinto navio foi o Lauro Sodré
           Voce pode perguntar: força econômica? Sim, força econômica, pois pelos idos da década de cinquenta era o Marajó quem abastecia de carne a Cidade de Belém e adjacências. Embora as cidades como Soure e Salvaterra tivessem suas economias minguadas, a Ilha mostrava certo poder, porque as grandes fazendas estavam localizadas no Marajó. Como ninguem desconhece a pecuária é uma atividade economica muito centralizadora, isto é, ela cria um numero limitado de empregos e sua renda não é tão distribuida. Desta forma,  toda renda gerada com a pecuária permanecia e permanece nas mãos dos fazendeiros, que aplicavam ou aplicam na própria fazenda e  na capital. Aliás, dos grandes pecuaristas marajoaras, poucos, mas muito poucos, mesmo tinham residencia nos Municipios.  Por outro lado, os municipios onde ficavam e ainda ficam essas fazendas pouco se beneficiavam ou se beneficiam dos impostos gerados. Com a construção das estradas ligando Belém a outros centros, principalmente, da Belém-Brasilia foi que, então, o Marajó foi se exaurindo economicamente, com a transferencia das grandes fazendas para a Belém-Brasilia. E isso ocorreu pela facilidade do criatório do gado naquela região, quando comparou-se com os campos marajoaras.
            Mas em toda essa história é importante reconhecer que quando o governo brasileiro autorizou a compra dos cinco navios, alguém nuito influente, ligado à Ilha de Marajó  articulou a compra, também, de um navio para ligar a ilha ao continente, isto é, Soure a Belém.
            Pois bem. Aqui eu retorno ao assunto  navio Presidente Vargas - Naquela noite em que o navio afundou, evidente, que eu não estava em Soure, pois havia voltado para Belém no mesmo dia, isto é, no sábado. Mas me contaram que possoas choravam, copiosamente, como se estivessem perdendo um ente querido. Foi uma noite do mais terrivel  pesadelo para os moradores do Soure. Todos estavam incrédulos. As pessoas que assistiam aquela cena, jamais, em momento algum, admitiam ou aceitavam o que estava acontecendo. Não acreditavam no que seus olhos viam. Mas aconteceu... o N/M Presidente Vargas afundara.
             Passado o primeiro impacto, a direção da então  Empresa de Navegação da Amazonia S/A - ENASA articulou a salvatagem do navio e,  mais ou menos, seis meses depois, foram iniciados os trabalhos daquilo que na época foi chamada de  algo como "operação resgate". Nessas alturas, eu, ja morando em Soure, inclusive, em uma casa na Primeira Rua, onde, bem aos fundos foi construido um acampamento, em que  guardavam parte do material e ficavam alguns megulhadores contratados para execução do serviço. Embora eu não tenha tido  conhecimento da parte tecnica da operação, me foi informado que todas as janelas ou escotilhas do navio foram fechadas pela parte de dentro, claro, com madeira, pois iria se injetados ar e "stiropor" (isopor granulado), para que o navio podessse emergir. Segundo comentário de um dos engenheiros da empresa encarregada de executar o serviço, seriam necessárias 12 toneladas do stiropor e foram enviadas apenas oito toneladas. Esse material injetado no navio fez com que ele emergisse a ponto de seu casco, quando a maré baixa, ficar fora dágua. Segundo esse engenheiro  ele teria solicitado que fossem enviado o resto do material para que, apesar da posição dificil em que o navio houvera afundado (emborcado, por causa das amarras) ele podesse ser puxado para uma posição em que seria resgatado. Como o material solicitado pelo engenheiro não veio, em tempo habil, os atamponamentos foram estourando e começaram a surgir, inicialmente, filetes, para depois, grandes quantidades do stiropor nas aguas do Rio Paracauary. Com o esvaziamento do  material que sustentava o navio flutuando, após cerca de 15 dias o navio afundou de vez. Diziam os megulhadores que trabalhavam na operação que a profundidade do rio naquele local, é de em torno de oitenta (80) metros.
                      Depois da tentativa, o navio teria sido vendido para a empresa Jonasa, mas  o navio Presidente Vargas continua no fundo do Rio Paracauary. Comenta-se que até hoje, não se verificou qualquer indicio de vazamento de oleo dos motores do Presidente Vargas. É bem provavel que tenha havido, sim,  vazamento, mas não percebido, em função do grande volume dágua do Rio Paracauary.
                       E esta é a história ou estória do final melancólico do "cisne branco" que singrou aguas marajoaras. Muitas saudades daquele navio, quando se viaja nessas "coisas" apelidadas de navios.
                      Ah ! Mas vale lembrar que da  frota branca da ENASA, outro navio teve fim semelhante. O Leopoldo Peres, também afundou. Sabe aonde? no estreito de Breves. Sabe aonde fica? Na Ilha de Marajó.